REAL QUINTA DAS NECESSIDADES
Esta quinta, obra tambem del-rei D. Joao v, foi feita ao mesmo tempo que se construiam os pacos e o convento contiguos.Constava entao, segundo ó gosto da epoca, de um jardim decorado de estatuas e vasos de marmore, com seu lago no meio: de compridas rúas de bosque, perfeitamente alinhadas, cruzando-se, e encontrando-se em diversos largos nao muito espacosos, onde formavam uma estrella, da qual cada rúa era um raio; de pomares de laranja, e outras frutas nos espacos que as rúas deixavam livres, mas encaixilhados em arvoredo silvestre; de uma horta ajardinada: de uma casa de regalo no fundo do bosque, com sua pequena cascata dentro, e fôra um grande lago circular, tudo assombrado de frondosas arvores, e finalmente de varias obras de ornato, taes como algumas fontes, e dois porticos, a um dos quaes, levantado na entrada da rua' principal da quinta, ornou engraçadamente o architecto com duas taças de repuxo, collocadas na parte superior do pórtico, uma de cada lado.
Passado um seculo tudo isto se achava na mesma disposição. Durante este periodo o palacio de Nossa Senhora das Necesidades tinha mudado muitas vezes de destino, como dissemos em outro logar, e teve nao poucas mudanças interiores. Porém a quinta conservou a sua forma primitiva até ao segundo consorcio da sr.ª D. Maria II, de honrosa memoria.
Principiou entâo para esta real quinta uma epocha nova. Em poucos annos operou-se n'ella uma tranformação, dirigida pelo gosto apuradamente artístico del-rei o Sr. D. Fernando.
Se el-rei D. João V resuscitasse, e alii fosse, acharia ainda as extensas rúas de arvoredo que mandou plantar, os mesmos lagos, pórticos, estatuas, vasos, e mais obras com que decorou a sua quinta. Porém, a par das antigás feições que caractérisam a monotonía da vida e a estabilidade do pensamento da nação sob o sceptro d'aquelle monarcha, vería as variadas ideas do progresso, que distinguem a geração actual, representadas na disposiçâo graciosa e variadissima dos melhoramentos que ahi se tem effeituado.
Nas novas ruas da quinta nao se cança a vista, contemplando sempre as mesmas coisas em toda a sua extensao. Dispostas como em volta de cobra, sao orladas de tanta diversidade de arvores, arbustos e plantas rasteiras, que a cada passo se prendem e enlevam os olhos na formosura das flores, ou na exquisita folhagem de plantas exóticas.
Os novos lagos nao sao formados por paredes de marmore uniformes, mais ou menos profusamente lavradas. Retratando a natureza, sao bellos como ella: e tem a variedade, tambem como ella, por condição da belleza. Suas margens irregulares ora se apertam, ora se alargara.
Em uns espraia-se docemente a agua sobre relva táo basta e viçosa, que parece que o lago tem por leito alcatifa de verdura. Em outros é reprezada por essas pedras de formas phantasticas, que o sol tostou e que as vagas do Océano, ordinariamente, carcomeram, assimilhando-as a brincadas rendas. Por entre as fendas das pedras enlaçam-se os convolvulus e as epomeas; e d'alli se debruçam as petunias.
Aqui, onde era d'antes uma clareira, avulta agora um como vasto açafate cheio de azuleas, gardenias e camellas. Alli eleva-se garbosamente uma palmeira sobre um tapete de verbenas multicores. Além realça e contrasta a ramagem recortada das araucarias e das grevilias, com as grandes folhas lustrosas das magnolias, e do ficus elastica, em uns logares solitarias, n'outros reunidas em bosque.
Do meio d'esta pomposa vegetação uma grande e formosa estufa ergue a sua esbelta cúpula ácima das mais altas arvores. Mandou-a fazer o sr. D. Pedro V. de saudosissima recordação, pouco antes do seu casamento. É de ferro esta estufa, e segundo cremos, foi fabricada nas officinas da sr.ª viuva Bachelay, na rua da Boa-Vista. Acha-se povoada de muitas plantas raras, que, reunidas as mais que a quinta encerra, constituem uma das melhores collecções de botánica que actualmente ha no paiz.
A real quinta das Necessidades offercce ao desenhador muita variedade de lindas perspectivas. A que a nossa gravura representa dá boa idea d'essas bellezas, meio artísticas, meio naturaes. No primeiro plano da gravura vé-se um pedestal de marmore. tendo na base uma fonte, e por corôa um leão rompente segurando um escudo. No fundo, por detraz do arvoredo, sobresae a cupula da grande estufa.
I. DE VILHENA BARBOSA.
Esta quinta, obra tambem del-rei D. Joao v, foi feita ao mesmo tempo que se construiam os pacos e o convento contiguos.Constava entao, segundo ó gosto da epoca, de um jardim decorado de estatuas e vasos de marmore, com seu lago no meio: de compridas rúas de bosque, perfeitamente alinhadas, cruzando-se, e encontrando-se em diversos largos nao muito espacosos, onde formavam uma estrella, da qual cada rúa era um raio; de pomares de laranja, e outras frutas nos espacos que as rúas deixavam livres, mas encaixilhados em arvoredo silvestre; de uma horta ajardinada: de uma casa de regalo no fundo do bosque, com sua pequena cascata dentro, e fôra um grande lago circular, tudo assombrado de frondosas arvores, e finalmente de varias obras de ornato, taes como algumas fontes, e dois porticos, a um dos quaes, levantado na entrada da rua' principal da quinta, ornou engraçadamente o architecto com duas taças de repuxo, collocadas na parte superior do pórtico, uma de cada lado.
Passado um seculo tudo isto se achava na mesma disposição. Durante este periodo o palacio de Nossa Senhora das Necesidades tinha mudado muitas vezes de destino, como dissemos em outro logar, e teve nao poucas mudanças interiores. Porém a quinta conservou a sua forma primitiva até ao segundo consorcio da sr.ª D. Maria II, de honrosa memoria.
Principiou entâo para esta real quinta uma epocha nova. Em poucos annos operou-se n'ella uma tranformação, dirigida pelo gosto apuradamente artístico del-rei o Sr. D. Fernando.
Se el-rei D. João V resuscitasse, e alii fosse, acharia ainda as extensas rúas de arvoredo que mandou plantar, os mesmos lagos, pórticos, estatuas, vasos, e mais obras com que decorou a sua quinta. Porém, a par das antigás feições que caractérisam a monotonía da vida e a estabilidade do pensamento da nação sob o sceptro d'aquelle monarcha, vería as variadas ideas do progresso, que distinguem a geração actual, representadas na disposiçâo graciosa e variadissima dos melhoramentos que ahi se tem effeituado.
Nas novas ruas da quinta nao se cança a vista, contemplando sempre as mesmas coisas em toda a sua extensao. Dispostas como em volta de cobra, sao orladas de tanta diversidade de arvores, arbustos e plantas rasteiras, que a cada passo se prendem e enlevam os olhos na formosura das flores, ou na exquisita folhagem de plantas exóticas.
Os novos lagos nao sao formados por paredes de marmore uniformes, mais ou menos profusamente lavradas. Retratando a natureza, sao bellos como ella: e tem a variedade, tambem como ella, por condição da belleza. Suas margens irregulares ora se apertam, ora se alargara.
Em uns espraia-se docemente a agua sobre relva táo basta e viçosa, que parece que o lago tem por leito alcatifa de verdura. Em outros é reprezada por essas pedras de formas phantasticas, que o sol tostou e que as vagas do Océano, ordinariamente, carcomeram, assimilhando-as a brincadas rendas. Por entre as fendas das pedras enlaçam-se os convolvulus e as epomeas; e d'alli se debruçam as petunias.
Aqui, onde era d'antes uma clareira, avulta agora um como vasto açafate cheio de azuleas, gardenias e camellas. Alli eleva-se garbosamente uma palmeira sobre um tapete de verbenas multicores. Além realça e contrasta a ramagem recortada das araucarias e das grevilias, com as grandes folhas lustrosas das magnolias, e do ficus elastica, em uns logares solitarias, n'outros reunidas em bosque.
Do meio d'esta pomposa vegetação uma grande e formosa estufa ergue a sua esbelta cúpula ácima das mais altas arvores. Mandou-a fazer o sr. D. Pedro V. de saudosissima recordação, pouco antes do seu casamento. É de ferro esta estufa, e segundo cremos, foi fabricada nas officinas da sr.ª viuva Bachelay, na rua da Boa-Vista. Acha-se povoada de muitas plantas raras, que, reunidas as mais que a quinta encerra, constituem uma das melhores collecções de botánica que actualmente ha no paiz.
A real quinta das Necessidades offercce ao desenhador muita variedade de lindas perspectivas. A que a nossa gravura representa dá boa idea d'essas bellezas, meio artísticas, meio naturaes. No primeiro plano da gravura vé-se um pedestal de marmore. tendo na base uma fonte, e por corôa um leão rompente segurando um escudo. No fundo, por detraz do arvoredo, sobresae a cupula da grande estufa.
I. DE VILHENA BARBOSA.
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