Friday 27 February 2009

Livistona australis, 1870


Jornal de horticultura prática I (1870) p. 168
LIVISTONA AUSTRALIS (R.Br.)
Ha cerca de trinta annos para cá o numero das Palmeiras cultivadas nas nossas estufas tem augmentado de maneira assombrosa, tanto mais notavel por isso que antes d'essa epocha apenas se conheciam n'ellas alguns representantes d'esta familia - a Real entre os vegetaes, como Humboldt lhe chama.
Era principalmente a grande difficuldade de fazer chegar as suas sementes à Europa, sem que perdersem a faculdade de germinar, que se devia attribuir a sua rariedade entre nós. Mas, finalmente, este obstaculo foi vencido, graças a um feliz acaso, que não hesitamos em tornar conhecido aqui, pois que elle deve servir-nos como uma especie de introducção para a Livistona australis, do que tencionamos occupar os nossos leitores.
Durante a permenancia de Allan Cunningham, botanico do rei de Inglaterra, na Australia, foram por elle enviadas muitas plantas vivas para o jardim do Kew. Os que encaixotavam, um dia, em vez de cacos guarneceram o fundo das caixões com os fructos d'esta Palmeira. Os fructos chegaram em estado de germinação e não só produziram varios pés d'esta especie, mas este facto suscitou a idea de fazer chegar do mesmo modo à Europa grande numero de outras especies de Palmeiras de differentes partes do globo.
A Livistona australis (Corypha australis) é uma d'essas poucas Palmeiras pertencentes ao continente da Australia, onde ella se encontra na costa occidental até perto de 38º de latitude austral, as vezes elevando-se a uma altura de 100 pés com um tronco de um pé de diametro.
O genero Livistona, de que so conhecem 10 especies (Vide «Synopsis Palmarum» auctore H. Wendland) compõe-se de plantas polycarpas e hermaphroditas, cujas flores têem seis estames e cujo ovario trilobado so transforma n'uma baga ou drupe monosperma. A estipe ora é columnar, lis e elevada, e n'esse caso frequentes vezes grossa e como bulbosa na base, ora curta e defendida pelas bases persistentes das folhas. Estas ultimas são luzentes, largamente flabelliformes, mais ou menos orbiculares, e de peciolos armados de grossos espinhos. (Vide «Manuel de l'Amateur des Jardines» por Decisne e Naudin, tom III, p. 640).
A planta de que nos occupamos e cuja estampa damos junta (fig. 27) é sem contradicção a mais bella e maior de todas as especies e a experiencia dá-a como perfeiteamente rustica no clima de Portugal, onde a jardinagem de ar livre promette tornar-se tão preponderante, que a utilidade das estufas será quasi nulla.
A Livistona australis conhecida pelos inglezes com o nome de «Cabbage Palm» é muito estimada no seu paiz natal. De suas folhas ainda não desenvolvidas fabricam os indigenes pannos de elevadissimo preço. Estas mesmas folhas, em estado ainda menos adiantado, dão um legume muito apreciado.
Aproveitando, por extremamente oportuna, a occasião que se nos offerece, não terminaremos esta curta noticia sobre a Livistonia, sem recommendamos aos leitores um pequeno numero de outras especies de Palmeiras, que offerecemem egualmente todas as probabilidades de uma aclimação facil aos jardins.
No Palacio das Necessidades, S. M. el-rei D. Fernando tem reunido um grande numero de representantes d'esta familia, plantados ao ar livre, w ao vêl-os pela primeira vez ficamos ainda mais admiradas da sua bella vegetação, por haver entre elles alguma que julgavamos em extrema delicadas para resistir aos invernos de Lisboa. Alguns bellos exemplares, por exemplo, uma magnifica planta da Livistona australis, encontram-se também na Lumiar, na quinta do snr. duque de Palmella, e na verdade pudiam rivalizar com as que tinhamos visto em alguns jardins da ilha do S. Miguel, onde davam à paisagem um aspecto próprio dos paizes intertropicães.
Mr. de Martius, intelligente monographo das Palmeiras, fixa em 15º centigrados a temperatura media annual extrema em que estas plantas podem viver ao ar livre.
A experiencia tem contudo demonstrado que algumas se acommodam com uma temperatura notavelmente baixa, isto é, 11º centigrados, não descendo abixo de 9º no inverno.
Segundo o que communicou Mr. Naudin à «Academia das Sciencias» de França, devemos crer que uma temperatura muito mais baixa pode ser supportada sem perigo por diversas especies de Palmeiras.
Eis o que elle diz a este respeito:
«Durante uma tempestade que teve logar em Collioure, nos Pyranees de leste, començou a neve a cahir aos 21 de janeiro e continuou sem interrupção durante 44 horas. As Oliveiras e as Laranjeiras sofferam immenso. As Palmeiras apresentaram uma resistencia extraordinaria. Esmagadas com o peso da neve, ficaram espalmadas com ervas sobre a camada que as separava da terra.
Este neve empastada de baixo das Palmeiras tomou a forma de gelo.
Ficaram n'este estado por um periodo variando de 3 a 12 dias, depois dos quaes començou a derreter a neve e as Palmeiras tomaram o seu porte normal.
D'isto deprehende-se que as Palmeiras podem resistir ao frio e parece que a sua presença em «pliocene strata», não prova que o clima em que viveram era tropical»
Vejamos agora que estas Palmeiras bastante rusticas, exigem ainda alem d'estas condições climatericas bem modestas, para que se déem bem entre nós.
Eis em poucas palavras as suas exigencias.
Grande abundancia de agua durante a vegetação, e os raios directos do sol.
Alem d'isto, será conveniente dar lhes um solo bastante rico de humus, mas um tanto argiloso, e abrigal-as dos ventos do norte durante o inverno.
Tambem exigem um certo tempo de repouso, e portanto, durante este periodo, é mister dar-lhes a menos agua possivel.
Em Elche, no sueste da costa de Hespanha, onde existe uma grande floresta de Palmeiras (Phoenix dactylifera), eguaes ás quaes poucas se encontram nos tropicos, passa actualmente um ria atraves da floresta e as Tamareiras têem buracos em volta d'ellas com mais de dous pés de profundidade cheios de agua.
Sendo a cultura das Palmeiras feita debaixo d'estas condições, poderemos gozar da belleza d'este grupo de plantas, a mais ornamental e a mais gloriosa do reino vegetal.
Concluindo, damos uma lista de algumas especies que recommendamos aos amadores para os primeiros ensaios.
Areca Baueri, Hook fil., Nova Zelandia; Kentia sapida, Mart., Ilha Norfolk; Ptychosperma Seaforthia, Miq., (Seaforthia elegans, R. Br.) Australia; Ptychosperma Alexandrae, F. Muell., Australia; Livistona australis, R. Br., Australia; L. chinensis, Mart. (Latania borbonica, Lam.) China; Sabal Adansonii, Guerns., Carolina, Florida; S. Palmetto, Lodd., Carolina, Florida; Chamaerops humilis, Linn., Europa aust., Africa bor. Esta especie marca o extremo limite no norte da familia. Chamaerops hystrix, Pursh, Georgia, Florida ; C. excelsa, Thunb., China aust. ; C. Fortunei, Hook., China Bor.; C. arborescens, Mart. patria duvidosa ; C. Ghiesbreghtii, Mart., Mexico ; Rhaphis flabelliformis, Ait., China. Tambem se cultiva uma variedade de folhas variegadas. Phoenix dactylifera, Linn. ; não se conhece com certeza a patria da Tamareira, com quanto seja pela sua cultura a Palmeira mas espalhada no globo. Phoenix reclinata, Jacq. , Cabo da B. Esperança ; Microphoenix decipens, Naud., patria? , Cocos campestris, Mart., Brazil ; C. Romanzoffiana, Cham., Santa Catarina ; Jubaea spectabilis, Humb. e Bonpl., Nova Granada.
Coimbra -- Jardim Botanico
EDMOND GOEZE

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