Saturday 10 January 2009

Monserrate 1864

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Palacio antigo de Monserrate, em Cintra, segundo um desenho de 1808

Archivo pittoresco semanario illustrado
Vol VII - 1864

O SITIO DE MONSERRATE EM CINTRA

Onde se esquecem mágoas, onde folga
De se olvidar no seio a natureza.

Garrelt—Poema Camões, canto v.

Adiante da quinta de Penha Verde, fundada por D. João de Castro, 4.° viso-rei e héroe da India, no seculo xvi, indo da villa de Cintra para a de Collares, ao lado direito, em um pequeño monte despegado, que se avança como atalaya do resto das ondulacoes
da serra, fica o sitio encantador de Monserrate, assim chamado de uma ermida da invocaçâo de Nossa Senhora de Monserrate, que no anno de 1540 edificou um clérigo chamado Gaspar Preto, mandando vir de Roma a imagem de alabastro da Senhora. Pelo decurso do tempo caíu em ruina a referida ermida; e no seculo xviii um negociante estrangeiro, chamado Gerardo Devisme (socio de Mellish, ambos os quaes foram, até ao anno de 1790, contratadores do pau do Brasil), fez edificar n'aquelle logar uma casa de campo, segundo o risco e desenho de Ignacio de Oliveira Bernades. (1) A casa era imitando um castello antigo. (2)


A primeira torre era destinada para os quartos de cama, seguindo-se em baixo casa de jantar e accessorios. A outra torre consistía em uma bella sala para música, de forma redonda, communicando com outras, tudo no melhor gosto e distribuição.
Tinha a casa duas entradas principaes, que se dirigiam a um vestibulo em octogono, que dava ingresso para os differentes ramos do edificio. A casa era cercada de uma gradaria de ferro de tres pés de altura, cingindo-lhe as paredes cedros que, sombreando-a, lhe nao roubavam (pela boa disposição em que estavam collocados) os lindos pontos de óptica que desructava, tanto para o lado da serra, da qual era dominada, como para a parte do mar e valle de Collares.
Os aposentos para os criados, cocheira с estrebaria, formavam outra corpo do edificio ao lado do caminho que conduzia a casa.
Abegoaria e casa de caseiro eram feitas com egual esmero de gosto, buscando a arte meios de embellezamentos na sua simples e rustica architectura.
Consistía a quinta em um bello bosque de antigos carvalhos, que vinham terminar junto á casa em um pomar de larangeiras e tangerineiras. Na encosta sobranceira ao valle estava assentado este pomar, onde se vê aínda uma cáscala de enormes calháos, que para alli foram conduzidos expressamcnte, esforcando-se por este modo com tanto trabalho o artificio humano em imitar a simplicidade das bellezas da natureza. Toma esta repreza as aguas que no inverno, e principios da primavera, descem do alto da serra, e formam uma cataracta que se despenha por um leito pedregoso, que forma a parte mais baixa do valle d'esta matta. Uma bella alameda de arvores conduzia á casa acastellada. Pela retirada de Gerardo Devisme, foi occupada esta estancia por um inglez chamado Beckford (3) , que n'ella deu brilhanles festins.
E quando este tambem se foi de Portugal, principiou o edificio a cair em ruinas, e a servir para aprisco.
A uma epocha de decadencia succede multas vezes outra epocha de restauraçâo, apparecendo um genio bemfazejo que lhe paralysa o impeto; e isso agora se vê, porque esta propriedade pertence hoje ao abastado inglez, mr. Cook, que a está restaurando em grau superior, no gosto oriental, como egualmente da quinta fazendo um jardim botanico, para onde tem mandado trazer arvores, arbustos e plantas, com especialidade fetos, de varios partes da Europa. A estampa que apresentâmos é copia de um quadro original, feíto a tempera, no anno de 1808, o qual possue unm amador de Cintra.

J. M. D. De Oliveira Travassos.

Brevemente publicaremos a perspectiva do palacio de Monserrate, no seu estado actual. O edificio que ainda ha pouco apenas tinha de pé as paredes exteriores, apresentando interiormente o aspecto desolador de completa ruina, está passando por uma tal transformaçâo, que em breve será, pela riqueza interior dos materiaes, pelas obras de arte, e pelo gosto e sumptuosidade dos movéis, a mais fastosa residencia de campo que haverá no paiz, assim como ja é uma das mais formosas pelas razoes que expõe o auctor do artigo supra.

I. de Vilhena Barbosa.

(Note 1)Nasccu em Lisboa no 1.° de feyereiro de 1695. El-reí D. Joäo v o mandou а Roma estudar, e foi discípulo de Benedicto Lutti, e depois de Paulo Mathei. Era architecto civil, e pintor; e tambein foi quem deu o risco e desenho para a casa que mandou fazer o referido Devisme, que é hoje da sra. infanta D. Isabel Maria, em S. Domingos de Bemfica.

(Note 2) Do quadro representando este edificio, pintado por Noell, ha uma gravura, que mandou tirar Gerardo Devisme, o qual, juntamente com David Purry, mandaram abrir uma estampa pela occasião de serem expulsos de Portugal os padres jesuítas (parа lisonjearem o marquez de Pombal), gravada em París por J. Beauvarlet, em 1772. Esta estampa tem muita analogia com a que representa mr. Samuel Bernard, conde de Coubert, gravada por Pedro Drevet em 1729.

(Note 3) O qual escreveu umas cartas mui curiosas sobre a sociedade portugueza d'essa epoca.

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